Valorizar o ambiente saudável, integrar os filhos às atividades domiciliares, seguir cronograma e respeitar momentos individuais são possibilidades para aprendizado mesmo em isolamento social
A estratégia de suspender as aulas para conter o avanço do novo coronavírus surpreendeu a todos. A medida impacta 48 milhões de estudantes em todo o País. Atônitos, responsáveis, professores, escolas e secretarias de educação tentam se adequar à nova realidade. Educação a distância resolve e alcança os mais pobres e os mais isolados? Como manter a saúde mental dos indivíduos e adquirir conhecimento mesmo em meio a uma pandemia? O POVO buscou os atores envolvidos para entender as estratégias e listar algumas ações tomadas a fim de reduzir os impactos no processo de aprendizagem.
Juliana Yade, especialista em educação do Itaú Social, ressalta a dificuldade de passar por esse período. No entanto, enfatiza a necessidade de as crianças e adolescentes continuarem com a oportunidade de aprender, mesmo em casa. Yade põe como um dos desafios a família se sentir incapaz de mediar o processo de aprendizagem, principalmente, dos indivíduos mais novos.
“Para minimizar essa perda, a convivência familiar é fundamental. Para isso, é preciso aprender a conviver e a estimular a empatia. Contar às crianças o que está acontecendo neste momento é crucial. Além de contribuir com ambiente saudável para que a estada dentro de casa seja agradável.” Por isso, defende a especialista, que qualquer atitude de organização do ambiente doméstico é um ganho de aprendizagem.
Aos estudantes da educação infantil, por exemplo, ela destaca que esses aprendem pela experiência. A dica de Yade é propiciar atividades que envolvam movimento, como pegar no lápis, pintar livremente, colorir um desenho, ouvir histórias e produzir de sua forma, pegar grãos de feijão, dividir em potes e transportar de um lado para o outro. São atividades listadas pela especialista. Aos maiores, a sugestão é usar das plataformas online, que disponibilizam conteúdos gratuitamente, como os museus.
Questionada sobre a dificuldade de acesso à internet por parte dos brasileiros ― conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 3 a cada 10 famílias não possuem internet em casa―, Juliana Yade menciona a necessidade de a família experimentar o ganho em leitura. “Esse é um problema que atinge boa parte das famílias. Trata-se de uma desigualdade estrutural. Uma saída é interagir mais em casa. Investir na leitura, até que as escolas disponibilizem conteúdo.
A estratégia da Secretaria da Educação do Estado (Seduc) é usar das plataformas, como Aluno Online e Google Classroom, para não perder o contato com os estudantes. Além disso, tem na figura do “professor de turma” um aliado para que o aluno cumpra os prazos previstos nas atividades. Grupos de turmas em aplicativo de mensagens instantâneas também é recurso utilizado.
Letícia de Moura, 15, é estudante do curso técnico de desenho da construção civil na Escola Estadual de Educação Profissional Dário Catunda Fontenele, no município de Ipueiras, distante 312,9 quilômetros de Fortaleza. A jovem integra a rede estadual de ensino composta por mais de 420 mil alunos.
“Eles nos mandam conteúdos, atividades, resumos, explicações e vídeos-aulas para que possamos estudar em casa”, destaca a jovem. Para conseguir organizar tanto material, a estudante do primeiro ano do ensino médio se organizou de duas formas: um cronograma com dias que vai estudar, cada dia com a matéria específica para ele, além do tempo de estudo.
Em outro papel, listou todas as atividades e os prazos previstos. “Os estudos domiciliares estão sendo produtivos e bons. Apesar de os professores não estarem presencialmente, eles mandam de forma explicativa e a gente consegue entender bem”, considera.
Titular da Seduc, Eliana Estrela reconhece como desafiador chegar aos estudantes via plataformas digitais. No entanto, a gestora destaca a parceria com o Ministério Público e com a Associação dos Professores de Estabelecimentos Oficiais Ceara (Apeoc). Segundo ela, a parceria tem traçado estratégias para manter os estudantes em casa, mas que continuem com acesso aos conteúdos, e chegar às localidades mais distantes.
“No estudo domiciliar, a base principal é o livro didático. As plataformas que usamos já existiam. Elas foram agregadas a outras. Esses recursos fortalecem a interação entre professor aluno, além de ser possível acompanhar o planejamento e a execução de todo o trabalho.” A responsável pela educação no Ceará ressalta ainda que a parcela de estudantes que não conseguir entregar as atividades poderão entregá-las após o fim da suspensão do calendário escolar.
Contudo, a gestora acredita que a parcela prejudicada por falta de internet será pequena. Segundo ela, o Aluno Online, principal recurso para contato, foi utilizado, em média, por 90% dos estudantes até o início da suspensão. O primeiro decreto para interrupção do calendário escolar saiu em 16 de março, com validade de 15 dias, e foi renovado para mais 30 dias, nesta segunda-feira, 30. O primeiro período de suspensão será avaliado pelos responsáveis para correção de possíveis erros nesse segundo momento.
Como reduzir os impactos na aprendizagem durante a quarentena
>> Produzir quadro com acordos coletivos “Colaboração”.
>> Criar cronograma da semana. O que estudar em cada dia e definir tempo para cada disciplina.
>> Reservar momentos individuais, coletivos e de estudos.
>> Execução de tarefas domiciliares.
>> Testar novas receitas.
>> Depois de comer e lavar os utensílios, utilize o material da cozinha para percussão.
>> Refazer finais de histórias já conhecidas.
>> Ler revistas, gibis, histórias em quadrinhos.
>> Assistir vídeo-aulas.
>> Ouvir podcasts.
>> Reproduzir jogos, como os de tabuleiros, dominós e amarelinhas.
>> Conferir as atividades propostas pela escola.
>> Aos responsáveis por mais de uma criança ou adolescente, é interessante dedicar um momento exclusivo para cada um.
>> Lembre-se: suspensão de aulas não é férias.
Escolas privadas
Em entrevista à Radio O POVO CBN, Airton Oliveira, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE), destacou que as instituições investem em plataformas digitais, como o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem).
Recursos próprios para educar
As instituições de ensino da rede privada apostam em recursos próprios para minimizar os impactos no aprendizado dos milhares de estudantes durante a quarentena. No entanto, para além disso, uma das discussões que tem movimentado os bastidores do ensino privado é a antecipação das férias escolares. Pelo menos uma dezena de escolas já decidiram pela estratégia em Fortaleza.
Dentre as unidades de ensino que permanecem com programa de aulas adaptados para o período da pandemia é a Casa da Tia Léa. A instituição organizou atividades para enviar aos pais e estudantes. Além de preparar vídeos informativos sobre prevenção ao novo coronavírus. Uma das estratégias colocadas em prática é o meio sonoro. Uma playlist no Spotify foi desenvolvida, com o título “Nossa Casa na Sua Casa”. Dessa forma, os responsáveis dispõe de conteúdo direcionado e educativo.
Ainda para estimular a proximidade entre a família e a creche escola, a instituição lançou o título da playlist como hashtag (#NossaCasaNaSuaCasa), que deve ser utilizada quando forem postadas fotos fazendo as atividades propostas pela instituição.
“A escola tem como rotina partilhar constantemente com as crianças informações sobre higiene e cuidados preventivos com a saúde”, destacou em nota. A Casa da Tia Léa atende crianças do berçário ao quinto ano do ensino fundamental.
Fonte: O POVO
Link: https://mais.opovo.com.br/jornal/cidades/2020/03/31/comunidade-escolar-busca-meios-para-reduzir-impactos-no-aprendizado.html